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Durante pandemia, atenção com acidentes domésticos deve redobrar


Para uma criança, qualquer coisa vira brinquedo. Presas em casa, durante a quarentena devido ao novo coronavírus, os olhares são atraídos para panelas quentes, tomadas e janelas (em caso de apartamento). Se o período de isolamento é difícil para os adultos, é ainda mais desafiador para as crianças, que têm energia de sobra. Pais devem ficar atentos para os riscos de acidentes domésticos.


Um levantamento da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) aponta que 40% das vítimas de acidentes com as chamas, em casa, são crianças.

O presidente do Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Marco Antônio Chaves Gama, explica que crianças com menos de 4 anos têm mais chance de se machucar, devido à curiosidade. “Sugiro aos pais que façam um passeio na própria casa, porque podem nem ter prestado atenção em locais de possíveis acidentes. Mesmo em home office, os adultos devem entender que as crianças não podem ficar soltas.”

Mas, com a disposição de sobra, nem sempre os pais conseguem chegar a tempo. Na casa da empresária Vitória Melo, 23 anos, bastou um segundo para que a caçula, Piet


ra, de 3 anos, machucasse o pé. “Ela estava correndo, bateu no sofá e caiu. Na hora, chorou muito e, depois de três dias, a unha caiu. Foi um susto. O coração dói e a gente se culpa, mesmo sabendo que aconteceu durante uma brincadeira”, pondera Vitória.

Pietra e a irmã, Náthaly, 4, iam para a crec

he, mas, com a chegada da pandemia do novo coronavírus, estão sempre em casa. Como a mãe trabalha fazendo donuts para vender, as meninas ficam na sala, e a mãe na cozinha, vigiando. “Estamos sempre tomando cuidados. Deixo produtos de limpeza em local alto, e não entram na cozinha, porque é onde acontece mais acidente. Mas, elas demandam muita atenção, principalmente a mais nova, que quer ficar o tempo todo no colo.”

Também em uma brincadeira, a filha da publicitária Luciana Montealto, 30, trincou o osso do cotovelo. Mariah, 2, estava pulando no sofá, com a irmã, Flora, 5, quando caiu e precisou ficar com o braço imobilizado. “Pouco tempo depois de tirar o gesso, desceu uma rampa com o triciclo, capotou e se ralou inteira”, detalha a mãe. “Os danos da pandemia no emocional das crianças serão imensos. Elas estão mais irritadas. É tanto tempo entediada, que prejudica mesmo. Elas têm muita energia, mas não têm como botar para fora e isso está fazendo mal.”

Luciana explica que, em casa, toma o máximo de cuidados, e adaptou os espaços para que as filhas tenh


am mais segurança. “A gente segue alguns protocolos. Remédio só fica em lugar alto, enfeites que podem quebrar estão guardados, e a gaveta de facas tem tranca. Mas, é preciso ficar em cima delas o tempo inteiro, porque têm curiosidade e querem mexer em tudo.”


Bebês

Embora a habilidade de engatinhar e caminhar aumente os riscos, uma vez que as crianças querem pegar em tudo, bebês também estão sujeitos a acidentes. Isso porque eles podem engasgar com o leite, ou com o próprio golfo, por exemplo. Assim aconteceu com o filho do pastor Wilson Pimentel, 32. Calebe tem apenas um mês de vida, mas passou um sufoco na semana passada.

De manhã cedo, logo depois da primeira mamada, ele engasgou ao golfar e, quando os pais perceberam, o pequeno estava com dificuldades de respirar. “Comecei os primeiros procedimentos de socorro, mas por não ter experiência, não tive êxito”, lembra Wilson. Ele, então, correu com o menino para buscar ajuda, enquanto a mãe ficava com o outro neném, gêmeo. No posto da Polícia Militar do Varjão, o pai encontrou socorro.

Segundo o cabo Reinaldo Eyng, a rapidez foi essencial para o salvamento. “Quando o menino chegou, já estava muito roxinho. Era um pouco maior do que uma mão, então precisamos ter muito mais cuidado. Um policial iniciou a manobra para tentar a desobstrução e, com o primeiro sinal de que ele estava recuperando a respiração, entramos na viatura e corremos para o posto de saúde.” Ele explica que, se o socorro tivesse demorado mais, a criança poderia ter sequelas como problemas neurológicos, devido à falta de oxigenação no cérebro.

Calebe, agora, está bem, sob o olhar atento do pai. “Ter ido ao posto policial foi a direção certa. Deus me conduziu nessa tomada de decisão, e os policiais foram instrumento para esse milagre. Tomara que daqui para frente não aconteçam mais sustos como esse”, comenta Wilson.


Prevenção

O pediatra e coordenador da unidade de internação pediátrica do Hospital Águas Claras, Mário Ferreira Carpi, explica que, durante a pandemia, houve aumento na frequência com que as crianças têm sofrido pequenos acidentes. Os mais comuns são as quedas, principalmente com traumatismo craniano. Queimaduras, choques elétricos e até mesmo afogamentos também são recorrentes.

O médico alerta para a necessidade de minimizar riscos. “Os adultos não conseguem ter os olhos vigiando 24 horas por dia. Então, evite o acesso dos pequenos a escadas, por exemplo. Cozinha e área de serviço não são lugares de criança”, alerta. “Coloque protetores nas tomadas da casa inteira, porque vale a pena. A chateação dessa medida é muito menor do que pegar o filho com uma queimadura porque enfiou o dedo na tomada.”

Sobretudo, a atenção faz a diferença para a saúde. “O fundamental nessa fase de pandemia é que os pais tenham muita criatividade para cuidar da saúde física e mental das crianças. São seres humanos que precisam gastar energia”, pondera. “Embora exista a necessidade de distanciamento social, não há nada de insalubre em tomar sol fora de casa. Respeitando as regras de distanciamento, e uso de máscaras, é salutar que saiam, e caminhem.” MS de Correio Brasiliense.

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